Continuidade partida: impactos psicológicos da imigração em refugiados sírios residentes na Grande Florianópolis (Brasil)

01/01/2018 15:05

Título: Continuidade partida: impactos psicológicos da imigração em refugiados sírios residentes na Grande Florianópolis (Brasil)
Autor: Lodetti, Mariá Boeira
Resumo:

A imigração refere-se ao movimento de atravessamento de fronteiras físicas e simbólicas para se estabelecer em outro país. Esse movimento é capaz de desencadear uma incoerência entre elementos de cultura de origem do migrante e elementos da cultura da sociedade de destino ao qual ele está inserido. Ele se depara com um outro universo cultural. É sobre esse encontro intercultural no qual a Etnopsiquiatria disciplina em que se baseia o quadro teórico da presente pesquisa visa debruçar-se. A incoerência desencadeada pelo movimento migratório pode levar o imigrante a um estado de vulnerabilidade psíquica. Nos casos de imigração involuntária, ou forçada, entende-se que não houve um desejo de deixar o país, mas que isso foi feito como única tentativa de assegurar a vida, como é o caso atualmente dos refugiados sírios. Atualmente eles representam 39% da população de refugiados reconhecidos no Brasil. Assim, a presente pesquisa objetiva compreender quais os impactos psicológicos decorrentes da imigração de refugiados sírios estabelecidos na Grande Florianópolis. Caracterizada como uma pesquisa exploratória, descritiva e de abordagem qualitativa, realizaram-se 13 entrevistas com utilização de dois instrumentos: roteiro de entrevista semiestruturado e Formulário sociodemográfico intercultural do NEMPsiC. Os participantes são todos adultos, 11 são homens e 2 mulheres. A maior parte deles (7) tem entre 20 e 30 anos. Quanto aos significados atribuídos ao processo migratório, constatou-se diferentes elementos de todo o percurso que fazem referência ao contexto de guerra que desencadeou a imigração forçada; que prolongou a precariedade e a exposição à violência nos múltiplos deslocamentos nos países vizinhos à Síria; que os levaram ao Brasil e à Florianópolis. Observou-se sintomas clínicos que surgiram após o processo migratório, como sintomas depressivos, os quais foram expressos pelo sentimento de solidão, tristeza, perda de apetite e de peso e desesperança em relação ao futuro; sintomas somáticos, no sistema digestivo, pressão no coração, dores nas costas e dor de cabeça; e sintomas pós-traumáticos, como distúrbio do sono, revivência dos episódios traumáticos e hipervigilância. No que se refere aos fatores de risco, destaca-se a experiência em si enquanto imigrante/refugiado, os múltiplos deslocamentos, o fato de alguns terem origem palestina, as barreiras linguísticas no Brasil, ameaças em torno da identidade/cultura síria, a falta de políticas de acolhimento, a falta de um serviço na UFSC que ofereça ajuda especializada à integração universitária e episódios de discriminação vividos. Quanto aos fatores de risco verificou-se a manutenção com os vínculos de referência pelo contato virtual com a família, existência de um grupo de mulheres síria em Florianópolis e importância da instituição religiosa; alguns elementos da cultura síria, como alimentação e religião; e, por fim, experiências no país de acolhimento, como os planos profissionais dos participantes e o contato de alguns deles com brasileiros. Nesse sentido, o estudo demonstra a importância de produção de conhecimento sobre a especificidade do refúgio sírio no Brasil e sua relação com os impactos psicológicos da imigração forçada. Ademais, reitera a importância de formação aos profissionais da saúde e da assistência social e a criação de ações na Universidade Federal de Santa Catarina que facilitem a integração escolar de refugiados.

Descrição: Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Florianópolis, 2018.
URI: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/198184
Data: 2018