Crianças migrantes: sentidos e memórias da objetividade vivida

01/01/2017 14:58

Título: Crianças migrantes: sentidos e memórias da objetividade vivida
Autor: Alcubierre, Karina Strohhaecker Lisa
Resumo:

Tivemos como objetivo compreender como as crianças vivem o processo da migração a partir do seu contexto de vida e do trabalho de suas famílias. Esse interesse parte da experiência como professora de educação infantil na Rede Municipal de Ensino de Florianópolis e decorre de questionamentos realizados a partir da chegada e da saída constante de crianças migrantes nas unidades infantis desta rede. Para alcançar nosso objetivo realizamos levantamento e análise bibliográfica sobre migrações na infância, sobre migrações e sobre o trabalho a partir de suas transformações históricas; analisamos o processo histórico das migrações no Brasil, em Santa Catarina, em Florianópolis e na região do Maciço do Morro da Cruz (MMC); analisamos a trajetória migratória, as condições de vida e de trabalho das famílias das crianças migrantes para compreender o contexto social destas e; contamos com a participação direta das crianças e de suas falas para compreender os sentidos que atribuem à migração. Tivemos como método de análise o materialismo histórico dialético e utilizamos as categorias analíticas da totalidade e das particularidades do fenômeno social migratório. Buscamos na perspectiva histórico-cultural as bases para compreender as percepções das crianças. A pesquisa de campo foi realizada em uma creche municipal que atende crianças, moradoras do MMC, Florianópolis. Contamos com a participação direta de 23 famílias migrantes que responderam um questionário objetivo; de três pais migrantes que nos concederam entrevista e; de 14 crianças migrantes com idades entre 4 e 6 anos. Fizemos uso do diário de campo, do gravador e do desenho para captar suas falas. Além disso, entrevistamos uma professora, uma auxiliar de sala, uma diretora e um supervisor escolar. Entre os resultados, destacamos que: a)a migração da classe trabalhadora não é resultado exclusivo de uma escolha individual, mas, sobretudo, de um processo socioeconômico que a condiciona vender sua força de trabalho fora de sua fronteira de origem; b) as crianças migrantes sempre existiram, embora esquecidas nas análises, políticas e pesquisas, elas enfrentaram e enfrentam a trajetória do migrar e sofrem suas consequências a depender de seus contextos de vida e de classe; c) a história migratória brasileira foi marcada pelo desenraizamento, mostrando que as migrações foram usadas no processo de construção e de consolidação das relações capitalistas de produção nacional; d) a unidade de educação infantil demonstra atuar como um local de inserção das famílias migrantes na capital catarinense e, e) as crianças não utilizam o termo ?migrar? para descrever a experiência vivida, mas usam os verbos ?mudar? e/ou ?viajar?. Suas falas revelam o modo como percebem a totalidade das relações sociais vigentes deixando claro a classe social a qual pertencem. Denunciam a forma como as contradições entre capital e trabalho determinam a objetividade da vida social e, ao mesmo tempo, condicionam as subjetividades desde a mais tenra idade.

Descrição: Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências da Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação, Florianópolis, 2017.
URI: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/186510
Data: 2017